segunda-feira, 28 de março de 2016

Rastreamento de Câncer Colorretal

 Devido a alta incidência anual de câncer colorretal, o rastreamento é indicado para indivíduos com risco moderado a partir dos 50 anos de idade e o método e periodicidade do exame dependem da disponibilidade e resultado dos achados em cada exame. O objetivo do rastreamento é a identificação precoce de adenomas avançados, que são precursores do câncer colorretal.

O tamanho do adenoma se correlaciona com a probabilidade de neoplasia, sendo classificados em diminutos (1-5mm), pequenos (6-9mm) e grandes (≥ 10mm). Adenomas avançados são aqueles com ≥ 10mm (adenomas grandes) ou < 10mm associados a ≥ 25% de características vilosas, displasia de alto grau ou carcinoma (definição histopatológica).

Fatores de risco: idade avançada (> 50 anos), história familiar de câncer colorretal, tabagismo, uso álcool, obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²), ingesta excessiva de carne vermelha, detecção de pólipos em exames prévios

Fatores protetores: consumo de frutas e vegetais, prática regular de atividade física, reposição hormonal, uso de AINE (mínimo de 2 vezes/semana durante 1 ano), exame prévio sem alterações

AAS como fator protetor: efeito demonstrado com o uso a longo prazo por inibir a ciclooxigenase-2 e induzir efeito apoptótico em tecidos adenomatosos. O uso é recomendado em dose baixa (81mg/dia) em pacientes com expectativa de vida > 10 anos, dispostos a ingerir um comprimido diário e sem risco para sangramento – recomendação classe B para indivíduos entre 50-59 anos e classe C para indivíduos entre 60-69 anos (publicação de 2015 pela U.S Preventive Services Task Force reconhecida pela American Cancer Society)

Contra indicações ao rastreamento: indivíduos > 75 anos de idade com comorbidade com expectativa de vida < 10 anos ou indivíduos > 85 anos ou em qualquer situação em que o risco exceda o benefício do exame

Rastreamento: Para o rastreamento, exames que possuem a maior acurácia para detecção de adenomas avançados são preferíveis e devem visualizar todas as partes do colon. Indivíduos com risco aumentado para neoplasia colorretal (história familiar, síndrome genética, doença inflamatória intestinal) devem iniciar o rastreamento em idade mais precoce e com menores intervalos.
- Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes (PSO): recurso mais utilizado mundialmente, sendo complementado pela colonoscopia nos casos com resultado positivo. Há dois métodos para detecção de sangue nas fezes: o exame imunoquímico, que é específico para hemoglobina humana e não sofre interferência da dieta e o exame tradicional (teste de guaiaco). O custo mais elevado desse método é compensado pelo fato deste apresentar menor número de resultados falsopositivos, que demandarão outros procedimentos invasivos e de alto custo. Há um terceiro método que avalia o DNA fecal, mas não é amplamente validado pela dificuldade de realização e custo elevado. Intervalo: anual
- Enema baritado: exame todo o colon, com poucas complicações, mas sensibilidade menos. Intervalo: 5 anos.
- Retossigmoidoscopia: permite localizar lesões que envolvem somente o reto e o colón descendente e necessita de menor preparo de colon. Intervalo: 5 anos, associado a PSO anual.
- Colonoscopia: método invasivo, que requer sedação e apresenta custo elevado, mas apresenta a vantagem de permitir a visualização de todo o intestino grosso e a remoção das lesões consideradas suspeitas. É o exame utilizado para acompanhamento dos casos positivos de PSO. Intervalo: 10 anos.
- CT Colonografia (colonoscopia virtual): também exige o preparo intestinal para ser realizado, mas dispensa a sedação. Com custo elevado, não remove as lesões suspeitas detectadas, necessitando a complementação da colonoscopia. Intervalo: 5 anos.



Rastreamento positivo: em caso de achado positivo nos exames, o mesmo deverá ser repetido de acordo com o achado, sendo subentendido que as lesões foram retiradas



 No Brasil: A Organização Mundial de Saúde aponta que, antes de se disponibilizar o rastreamento para o câncer de cólon e reto a uma população por meio da pesquisa do sangue oculto nas fezes, é necessário levar em consideração os custos de toda a logística e o impacto sobre o número de colonoscopia diagnósticas que advirão dessa implementação. Por esses fatos, não se considera viável e custo-efetiva, atualmente, a implantação de programas populacionais de rastreamento para câncer colorretal no Brasil. Recomenda-se fortemente, entretanto, que a estratégia de diagnóstico precoce seja implementada com todos seus componentes: divulgação ampla dos sinais de alerta para a população e profissionais de saúde, acesso imediato aos procedimentos de diagnóstico dos casos suspeitos (o que implica ampliação da oferta de serviços de endoscopia digestiva e demais suportes diagnósticos) e acesso ao tratamento adequado e oportuno. Essa estratégia consolidará as bases necessárias para detecção mais precoce desse tipo de câncer, com vistas a um futuro programa populacional de rastreamento, quando evidências de custo-efetividade e sustentabilidade assim o indicarem. Situações de alto risco devem merecer abordagens individualizadas.

Fonte: Artigo "Colorectal Adenomas" - Williamson B. Strum, M.D. N Engl J Med 2016;374:1065-75

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