sexta-feira, 1 de abril de 2016

Disfunção Hepatica Aguda em Hepatopatas: um novo conceito

Introdução
Este artigo de 2013 do Gastroenterology (artigo original) propõe estabelecer um conceito novo de agudização de hepatopatia crônica: a chamada Disfunção Hepática Aguda em Hepatopatas (DHAH). Além disso, propõe-se a comparar a mortalidade entre aqueles hepatopatas que apresentarem apenas uma Descompensação Aguda (DA – ascite, PBE, HDA, Encefalopatia, por exemplo) sem disfunção orgânica, daqueles com disfunções orgânicas presentes.

Definir e melhor estadiar os hepatopatas em descompesação é de grande importância porque permite a identificação precoce de pacientes em alto risco para desenvolver disfunções orgânicas, e consequentemente que teriam pior prognostico (mortalidade) , exigindo tratamentos específicos e / ou manejo intensivo.

Métodos
Foram coletados dados de 1.343 pacientes hospitalizados com cirrose e em Descompensação Aguda (podendo ser a primeira descompensação ou não) de Fevereiro a Setembro de 2011 em 29 unidades dedicadas ao tratamento de hepatopatias em 8 países Europeus.

Foram utilizados os dados de disfunção orgânica para definir os tipos de DHAH, avaliar a mortalidade e identificar diferenças entre DHAH e DA simples. Estabeleceram-se critérios diagnósticos para DHAH com base em análises de pacientes com falência de órgãos (definida pelo CLIF-SOFA score)

CLIF - SOFA score

As Áreas Em azul representam os parâmetros que foram considerados como critério diagnostico para disfunção orgânica.


Quatro categorias de DHAH foram identificadas: 
  • DHAH 1: Pacientes de qualquer um dos três subgrupos: (1) com disfunção renal exclusiva, (2) pacientes com: disfunção hepática , ou distúrbio de coagulação, ou distúrbio de circulação, ou distúrbio respiratório, associado à um nível de creatinina sérica entre 1,5-1,9mg dl / ou leve a moderada encefalopatia hepática, e (3) pacientes com disfunção cerebral exclusiva que tivessem um nível de creatinina sérica entre 1,5 e 1,9 mg / dL.
  • DHAH -2: 2 falencias orgânicas
  • DHAH -3: 3 falencias orgânicas
  • Sem DHAH: Pacientes de qualquer um dos três subgrupos: (1) Sem nenhuma disfunção orgânica, (2) paciente com qualquer disfunção orgânica menos renal associado à Creatinina < 1.5 e sem Encefalopatia hepática e (3), pacientes com encefalopatia e Cr< 1.5
Esses grupos foram comparados quanto à mortalidade em 28 e 90 dias:
  • DHAH 1: 22,1% e 40.7 % respectivamente
  • DHAH 2: 32% e 52.3% respectivamente
  • DHAH 3: 76.7% e 79.1% respectivamente
  • Sem DHAH: 4.7% e 14% respectivamente
Resultados e conclusões 
  • Dos pacientes avaliados, 303 tiveram DHAH quando o estudo começou, 112 desenvolveram DHAH, e 928 não tinham DHAH. A taxa de mortalidade de 28 dias entre os pacientes que tiveram DHAH quando o estudo começou foi de 33,9%, entre aqueles que desenvolveram DHAH foi de 29,7%, e entre aqueles que não têm DHAH foi de 1,9%. 
  • Pacientes com DHAH eram mais jovens e com mais frequência alcoólica, tinha mais associada infecções bacterianas, e tiveram maior os números de leucócitos e níveis plasmáticos mais elevados de PCR do que pacientes sem DHAH (P 0,001). 
  • O CLIF SOFA score e a contagem de leucócitos foram preditores independentes de mortalidade em pacientes com DHAH.
  • A prevalência de DHAH em pacientes com DA é de 30%;que está associada com uma taxa de mortalidade a curto prazo 15 vezes maior do que em pacientes com DA por si só. 
  • Fato interessante foi que em pacientes sem a prévia história de Descompensação Aguda (nunca tiveram ascite/ PBE/Encefalopatia), DHAH foi inesperadamente caracterizado por uma maior número de falências orgânicas, maior contagem de leucócitos e maior mortalidade em comparação com DHAH em pacientes com história prévia de AD

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